17.11.11

Carro Alegórico




Carro Alegórico


Allben, poeta, século 21, frevo

Todo mundo tem o seu zoológico

suas feras, seu lado ilógico:
O meu é um carro alegórico
nesse parque ecológico


Sob o pendão da esperança
desfilo a mais de mil
abandonado qual crianças
no coração do Brasil


Sigo a levantar poeira
com uma malta de capoeiras,
burgueses comprando
no camelódromo,
desdentados pedindo
escovódromo,
loucos a clamar
por felicidade:
apoteóticos
em todo sambódromo


A classe C abre-alas no shopping
remando contra a maré do doping
A bateria,
de panelas vazias
o coro vem da Detenção:
encarcerados entoam
"liberdade!"
todos de celular e coração na mão


Todo mundo tem o seu zoológico
suas feras, seu lado ilógico:
O meu é um carro alegórico 
nesse parque ecológico


Sob o risco de toda vida:
pegar fogo na avenida
reinventar o enrêdo,
a alegoria, a animação
ter à frente um mestre-sala traiçoeiro
e a porta-bandeira
só na contra-mão


Rodopiando qual baianas
na República de Bananas
índios e assentados
corruptos por todo lado
ambulantes, tantos figurantes
todos na grande arca,
herdeiros da fuzarca
piratas em réplicas delirantes

 (Fantasia do real:

- Será lícito
elucidar a pantomima
desse carnaval?)


Todo mundo tem o seu zoológico
suas feras, seu lado ilógico:
O meu é um carro alegórico
nesse parque ecológico